
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
DICA DE LEITURA

FRANCAMENTE, ÉTICA, O QUE VEM A SER ISSO?

Me ocorre a piada do português, o livro de lógica é o "tens aquário?". Tanto verbo jogado fora em nome da tal "ética"... Afinal de contas, como os sistemas de valores, códigos morais e a moda, a ética é perecível, descartável. De dez em dez anos, de cem em cem anos, de mil em mil quilômetros, encontramos conceitos diametralmente opostos do que é "ético", moralmente aceitável, certo ou errado. Numa esfera macropolítica, vem à lembrança o caso do desprezo chinês ao conceito de Direitos Humanos. Para a ancestral crueldade chinesa, "Direitos Humanos" são uma invenção, uma imposição do Ocidente. Os ocidentais podem replicar: "É para o seu bem...".
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
HISTÓRIAS DE VIDAS INDIGNAS, LONGE DE TEREM UM FINAL FELIZ
Vinícius Araújo da Silva, cidadão araguaiense de apenas 12 anos, acorda todos os dias às 6h da manhã. Às 7h toma um pouco de café e come um pedaço de pão e já sai para a lida. Passa amanhã inteira vendendo picolé e lá pelas 11h encerra o serviço, lava-se rapidamente, veste o uniforme escolar e almoça um pequeno prato de arroz e feijão. Às 17h30, Vinícius está de volta. O jantar é tão fraco quanto o almoço. Às vezes Vinícius não agüenta e dorme durante as aulas.
Assim é a história de Vinícius, um enredo tão semelhante ao de milhares de crianças brasileiras, que por interesses mais diversos perdem seus direitos e sua liberdade. Perdem a chance de serem crianças e viverem como tal. Curtem pouco a infância, que termina geralmente aos 7 anos, quando vão trabalhar. Tornam-se uma criança-adulta, com apenas deveres.
Foi em um bar que aconteceu nossa conversa com Marquinhos, num lugar um tanto inadequado para uma criança de apenas 8 anos. Ele sentou-se e prontamente começou o diálogo. Com o rosto ainda molhado de suor, ele seguiu contando a trajetória. “Eu estudo na escola aqui da vila mesmo, acordo às 6h, me arrumo e vou pra lá”. Sem café da manhã, ele luta com o próprio estômago, “dói muito”. Nosso entrevistado enxuga o rosto, mais uma vez, e volta a falar: “Mal posso esperar a hora da merenda”.
De tão rotineiros, fatos lamentáveis como esses já passam despercebidos das pessoas. As crianças trabalhadoras não têm tempo sequer para brincar ou praticar esportes. Realizando muitas vezes o trabalho de adultos, cumprem longas jornadas sem reclamar, e recebem menos de um salário mínimo.
Denunciar ou não?
Para garantir o direito constitucional das crianças a educação e alimentação com dignidade (artigo 27 da Constituição Brasileira), um passo seria a denúncia dos casos de trabalho infantil para o Conselho Tutelar - órgão responsável nos municípios por verificar o cumprimento da legislação infantil. "Se a denuncia for confirmada por nós, afastamos a criança do trabalho e passamos o caso para promotoria”, afirma Polleyka Fraga, conselheira responsável pelo órgão em Alto Araguaia.
A denuncia, porém, nem sempre significa o fim do drama para as crianças. Filhos de famílias pobres, muitas vezes sem ter o que comer em casa, têm no trabalho a única forma de ganhar o seu sustento. Uma vez denunciado, corre o risco de perder o emprego, tornando sua sobrevivência ainda mais difícil.
Há famílias cujo pensamento é de que a criança também tem que contribuir no sustento da casa, sob o argumento de que assim estão afastando as crianças do ócio e da marginalidade. Em função disso, os pais colocam as crianças à mercê da exploração da mão-de-obra infantil, e em momento algum consideram o trabalho prejudicial ao menor. A desigualdade social só contribui para que a prática se perpetue.
Mais um Hussein na história americana

terça-feira, 4 de novembro de 2008
A Televisão e a representação da realidade na visão de Bourdieu

Finalizando, o autor destacada a circulação circular da informação, que consiste no fato de os jornalistas terem propriedades comuns de origem e de formação, de lerem-se uns aos outros e de encontrarem-se uns com os outros, o que causa efeitos de repetição como um jogo de espelhos, que se refletem mutuamente produzindo uma barreira de fechamento mental.
Podemos perceber que a televisão como um meio eficiente na formação da opinião pública, tem monopolizado os fatos e as informações que os cidadãos por direito deve ter acesso, exercendo, portanto, como diz o autor uma “censura invisível”, e servindo assim, como um meio e um instrumento de veiculação de ideologias, que trabalha na deformação do cidadão, não na sua formação. Bourdieu mostra que é possível para esse veículo de comunicação se tornar “um instrumento de democracia direta”, em vez de converter-se em um “instrumento de opressão simbólica”.
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Domo de Araguainha: um marco na história da vida na Terra

domingo, 2 de novembro de 2008
Nota 10

terça-feira, 28 de outubro de 2008
Jornalismo Regional e Livro-Reportagem: Preservação e Reconhecimento das Identidades Locais
(Trabalho apresentado no III Sinposio de Jornalismo - UNEMAT)
Orientadora: Profª. Me. Shirlene Rohr

Os interesses comerciais que ocupam cada vez mais espaços nas empresas jornalísticas não permitem uma abordagem que ultrapasse as fronteiras do imediato, escamoteando uma visão mais aprimorada do contemporâneo, ao desprezar as peculiaridades do cotidiano e ao ignorar as questões locais. No universo amplo do jornalismo, o Livro-reportagem é apresentado neste trabalho como uma importante ferramenta do Jornalismo Regional, por ser isento da obrigação severa com a periodicidade, com os temas atuais e com o formato de produção da mídia habitual. Por oferecer ao autor, um vasto campo de liberdades funcionais; oferecendo, portanto, uma abordagem aprofundada da realidade social e do cotidiano de seus personagens. Privilegiando a produção e as lutas simbólicas da comunidade local, de forma a preservar e fortalecer suas identidades.
Palavras-chave:
Jornalismo regional; Livro-reportagem; identidades; mídia; sociedade.
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
A REALIDADE NUA E CRUA
sábado, 18 de outubro de 2008
A fragmentação das identidades e os rumos tomados pela comunicação após o 11 de setembro

Dentre os estudos realizados por esse pesquisador, o presente trabalho faz análise do texto, “Tecnicidades, identidades, alteridades: mudanças e opacidades da comunicação no novo século”, onde o autor discute os processos, os meios e as práticas da comunicação numa realidade tecnológica e globalizada que obedecem a uma ordem mercadológica capitalista.
O autor introduz o texto abordando os rumos tomados pela comunicação após o 11 de setembro em Nova York e o Fórum Social Mundial de Porto Alegre. Na visão do autor, não há como analisar a comunicação sem entender o que aconteceu com o mundo após esse atentado terrorista e após as novas perspectivas aberta pelo fórum.
Afirma que esses dois episódios são fontes de extrema tensão no mundo globalizado, que convive hoje tanto com a desconfiança que leva ao aprofundamento das fronteiras quanto com a potencial subversão contra o sistema dominante patrocinada pelas novas tecnologias da comunicação. É neste ambiente que a comunicação, no começo do novo século, encontra-se encarcerada entre fortes mudanças e densas opacidades, que derivam da necessidade de uma razão comunicacional que dê conta da fragmentação que desloca e descentra, do fluxo que comprime e globaliza e da conexão que desmaterializa e hibridiza.
Entre as mudanças e opacidades citadas por Martín-Barbero, estão os efeitos que os processos de globalização econômica e informacional provocaram sobre as identidades culturais, a educação, o mundo do trabalho, o exercício da cidadania e a percepção do tempo.
Na visão do autor, a globalização acelera as operações de desenraizamento e tende inscrever as identidades nas lógicas dos fluxos. É claro que a comunicação na sociedade globalizada faz-se como eficaz motor da venda de bens simbólicos, sustentáculo para a legitimação do consumo de todo e qualquer tipo de mercadoria, sempre no sentido centro-periferia.
Ao comentar as mutações infligidas pela globalização sobre identidades culturais, o autor afirma que um novo tipo de mudança estrutural está fragmentado as paisagens de classes, gênero, etnia, raça e nacionalidade, que no passado nos tinha proporcionado sólidas localizações como indivíduos sociais. Transformações que estão mudando nossas identidades pessoais.
Até pouco tempo, identidade se confundia com raízes, ou seja, com costumes, territórios, tempo longo e memória simbolicamente densa. Hoje, a tecnicidade midiática acrescentou à formação das identidades culturais as migrações, as redes, os fluxos, a instantaneidade e a fluidez. As raízes ganharam movimento.
Comentando a relação da tecnicidade midiática com a educação, o autor afirma que os meios estão modificando a forma de organizar e distribuir saberes. A tecnicidade, diz ele, possibilita uma experiência de aprendizagem diferente. Um campo de exposição e troca cultural. Neste espaço virtual as diversidades entre culturas se aproximam, se mesclam, oportunizando novas habilidades, novos saberes, novas imagens de trabalho e uma nova forma, inclusive, de se pensar o professor. A quantidade de informação e conhecimento do mundo moderno exige que o professor redimensione seus currículos e estabeleça prioridades.
Segundo o autor, entramos em primeiro lugar, diante de um novo estatuto social do trabalhador. A passagem de um trabalho caracterizado pela execução mecânica de tarefas repetitivas a um trabalho com um componente maior de iniciativa por parte do empregado. A deslocar o exercício da predominância da mão para o cérebro, mediante novos modos do fazer que exigem um saber fazer, pressupõe uma demonstração de destrezas com um componente mental maior.
Na lógica da competitividade, o trabalho sofre uma forte retratação e até o desaparecimento do vínculo societário entre trabalhador e empresa. Ao mesmo tempo muda também a figura do profissional, convertida no lugar de expressão da nova complexidade de relações entre mudanças do saber na sociedade de conhecimento e as mudanças de trabalho numa sociedade de mercado.
Também o nível salarial tem cada vez menos a ver com os anos de trabalho na empresa. Os profissionais que levam muitos anos numa empresa são substituídos por jovens recém-formados que, além do mais, começam a trabalhar ganhado o dobro do salário dos antigos.
Para o autor, as identidades/cidadanias modernas, ao contrário daquelas que eram atribuídas a partir de uma estrutura preexistente com a nobreza ou a plebe, constroem no diálogo e no intercâmbio e principalmente na negociação do reconhecimento pelos outros. As novas figuras cidadãs remetem a políticas de reconhecimento, vivendo assim do reconhecimento dos outros.
Ao discutir a percepção do tempo, o autor afirma que de um lado, as mídias de massa se transformam em máquinas de produzir presente, ou seja, acham se dedicadas a fabricar esquecimento. O que vale como notícia é o que nos conecta com o presente que está acontecendo, o que, por sua vez, permite que o tempo em tela de qualquer acontecimento deva ser também instantâneo e equivalente, com o que o presente convertido em atitude dura cada vez menos, que é ao que o mercado se dedica em seu conjunto, ao planificar a acelerada absolescência dos objetos como condição de funcionamento do próprio sistema de produção; por outro lado, a febre de memória é também crescente: desde o crescimento e expansão dos museus nas duas últimas décadas à restauração dos velhos centros urbanos, ao sucesso da novela histórica e relatos biográficos, à moda retro em arquitetura e vestidos, ao entusiasmo pelas comemorações e ao auge dos antiquários.
Martín-Barbero alerta ainda que a parafernália midiática criou novos campos de mudança, que devem ser compreendidos para que se vislumbre como se processam e que efeitos provocam em pontos crítico da sociedade atual, como, por exemplo, a desterritorialização/relocalização das identidades, as hibridações da ciência e da arte, dos escritos literários, audiovisuais e digitais e a reorganização dos saberes desde os fluxos e redes, pelos quais se mobilizam não só a informação, mas também o trabalho e a criatividade.
O autor extrai do cenário atual da comunicação duas perversões e duas oportunidades. As perversões estão vinculadas à tendência de concentração no controle dos veículos e conteúdos que circulam pelas redes mundiais de comunicação e nas ameaças contra a liberdade de expressão e informação surgidas a partir do 11 de setembro. As duas oportunidades se baseiam nas possibilidades abertas pela digitalização, que pode fomentar o aparecimento de uma linguagem comum de dados, que desmonte a hegemonia racionalista do dualismo que até agora opunha a razão à imaginação, a ciência à arte e o livro aos meios audiovisuais. A segunda oportunidade diz respeito à configuração de um novo espaço público e de cidadania.
Aborda ainda os perigos e as promessas de um mundo midiático em que a comunicação ganhou o status de estrutura. . De um lado, a visão de que a tecnologia é o motor principal das mudanças que estamos presenciando e experimentando; de outro, um olhar sobre a comunicação e a produção de conhecimentos a partir das “re-produções” – grafia escolhida pelo autor – que realizam os receptores com base nos referentes informativos com os quais negociam sentidos.
Análise do filme “Obrigado por fumar”

O poder argumentativo de Nick atraia a atenção não só dos principais chefes da indústria do tabaco, mas também de Heather Holloway, a repórter de um jornal de Washington que deseja investigá-lo e que usa de meios “escusos” para conseguir seus objetivos. Momento único no filme em que seu profissionalismo pode ser questionado.
A trama aborda ainda a relação conflituosa entre Nick e um senador, que deseja colocar rótulos de veneno nos maços de cigarros e com essa atitude desesperada, tenta prejudicar os negócios bilionários das indústrias de tabaco. Nick conta com a ajuda de um poderoso agente de Hollywood, para fazer com que o cigarro seja promovido nos filmes.
Em todos os conflitos apresentados pelo filme, o personagem utilizando o seu poder de argumentação e persuasão, passa de vilão para herói. Faz a audiência torcer por ele, pelo carisma e habilidade de conversar e convencer. Nick justifica suas ações com a necessidade de pagar sua hipoteca.
O filme propicia uma reflexão e um interessante debate sobre a conduta do profissional de assessoria e sua relação com a organização para qual desenvolve alguma atividade. Assim, a partir do tema abordado pelo filme em questão e fundamentado no texto “Afinal, o que o mercado profissional quer de você?” de Maristela Mafei, a presente análise busca traçar o perfil do profissional da assessoria, a partir de ações desenvolvidas por Nick.
Ao abordar o perfil do assessor de imprensa, Maristela Mafei comenta que o “assessor deve ter a confiança de todos os gestores, e tomar decisões sobre os melhores passos a serem seguidos em nome da boa imagem da empresa”. Nick não importa com os danos que suas ações podem causar a sociedade, atua em prol da organização sem se preocupar com ética e valores. Para o personagem acima de qualquer valor ético e moral estão os interesses profissionais. Essa afirmação fica clara quando Nick leva um presente para o homem Marlboro. O presente, uma mala cheia de dinheiro, na verdade, um suborno para que o homem propaganda pare com as denúncias contra as empresas de tabaco.
Maristela afirma que “o assessor não deve ser passivo, mas antecipar cenários que possibilitem a elaboração de um planejamento estratégico de comunicação capaz de gerar uma imagem positiva do assessorado”. O personagem na busca por elevar a imagem da organização que representa, faz com que o cigarro seja promovido nos filmes de estrelas em Hollywood, que aparecem fumando no espaço sideral, em uma ficção científica futurista.
A cenas que merece destaque, é a cena do debate na TV em que Nick encara um senador progressista, um ferrenho anti-tabagista, envolvido numa campanha feroz para que seja colocado o desenho de uma caveira em cada maço de cigarros. Usando o seu poder de argumentação, Nick passa de bandido a mocinho transfere toda imagem negativa para o senador que é defensor de queijo cheddar. Maristela comenta que é necessário que se trabalhe uma “política estratégica de comunicação, liderada por profissionais capazes de planejar cada item e cada passo da exposição do assessorado”. Segundo a autora é essa política que influenciará positivamente a imagem da empresa.
Maristela comenta que o assessor tem o controle sobre a mensagem final que chega ao público-alvo, e é nesse ponto importante que o personagem falhou. Ao se envolver com a jornalista e deixar vazar informações importantes, Nick quase colocou a perder todo esforço utilizado por ele na busca por melhorar a imagem da indústria do tabaco.
Graças a sua capacidade estratégica e seu poder de argumentação, Nick conseguiu reverter a situação e recuperar sua imagem como lobista e a imagem da indústria de tabaco.
Por fim, podemos perceber que ao abordar os dilemas éticos da atividade do lobista, o filme permite-nos traçar o perfil do profissional nele representado. Percebemos que acima da conduta ética e moral, está fidelidade do profissional à empresa e a preocupação com sua imagem quanto profissional. Para Nick as questões profissionais estavam acima de tudo.
O discurso ideológico da democracia racial no Brasil

Bakhtin retrata as mudanças lentas e contínuas que as ideologias sofrem ao passar pela palavra e pelos discursos construídos na realidade social até atingir a superestrutura. Para o autor, a infra-estrutura constitui a base das instituições sociais. A realidade, as informações, os fatos e os desdobramentos são essenciais para a constituição social de uma determinada comunidade. Enquanto a superestrutura refere-se a elementos como, camadas ideológicas, mentalidades de uma época, e economia, gerados pela infra-estrutura e pelos reflexos que suas mudanças acarretam.
O autor afirma que todo discurso é carregado de ideologia, e, portanto, possui uma carga de interferência social, pois ao ser manifestado pelo sujeito sofre também influências ideológicas do próprio autor, do interlocutor e, principalmente do contexto discursivo em que se enquadra, pois, a partir do momento que um indivíduo está inserido em uma sociedade, ele sofre influência dela e das experiências pelas quais já passou. Para o autor essa interação social é responsável pela consciência do indivíduo, que é uma consciência coletiva e não individual.
Ao discutir as propriedades da palavra o autor afirma que ela é “um material ideológico, por excelência”. Se as palavras nascem neutras, mais ou menos como estão no dicionário, ao se contextualizarem passam a expandir valores, conceitos e pré-conceitos. O autor mostra que toda palavra está permeada de um conteúdo ideológico, pois “refletem, de um modo mais ou menos evidente, os interesses, as interpretações de determinados grupos, capazes num dado momento histórico, de fazer valer a sua concepção de mundo”. Afirma que a palavra orienta-se para um destinatário e esse destinatário existe numa relação social clara. As interações são entendidas como espaços de imposição de uma classe dominante que constroem mecanismos de controle visando garantir seus interesses pessoais, políticos e econômicos.
Os discursos são fundamentados em ideologias que utilizam de signos e da semiótica na obtenção de sentido e são transmitidos de forma a ocultá-los, buscando a facilitação da absorção pelo sujeito, pois para o autor tudo que é ideológico possui significado e remete a algo situado fora de si mesmo.
A analise do discurso apresentada por este texto é feita baseada nos conceitos discutidos por Bakhtin, buscando perceber no texto em anexo as ideologias presentes que buscam na interação social influenciar a consciência do indivíduo. O texto escrito por Rodrigo Constantino circula livremente por diversos sites, é uma resenha do livro “Não somos racistas – Uma reação aos que querem nos transformar numa nação bicolor”, do diretor de jornalismo da Rede Globo Ali Kamel, que afirma não haver opressão racial no Brasil porque somos “orgulhosos de nossa miscigenação, do nosso gradiente tão variado de cores”.
Não Somos Racistas
Rodrigo Constantino
O racismo, até então inexistente como uma característica predominante da nação brasileira, que sempre teve orgulho de sua miscigenação, pode estar florescendo por aqui. A mentalidade maniqueísta que divide o povo entre brancos e pretos está por trás desse lamentável fato. Eis a tese defendida com sólidos argumentos pelo jornalista Ali Kamel em seu recente livro Não Somos Racistas, uma leitura fundamental para quem pretende compreender melhor os rumos que o país está tomando na questão racial. Ali Kamel deposita uma boa parcela de culpa no governo FHC, que teria avançado nessa remodelagem de uma nação bicolor, onde brancos oprimiriam negros. Tal mentalidade estaria totalmente de acordo com o defendido pelo sociólogo Fernando Henrique Cardoso nos anos 1950. No governo FHC foi criado o Grupo de Trabalho Interministerial para a Valorização da População Negra, o que já denota este racismo que divide tudo em brancos e negros. Eram os primeiros passos do que viria a se transformar no regime de cotas durante a gestão de Lula, que tem até um Ministério da Igualdade Racial. As sementes que poderão germinar no até então inexistente ódio racial brasileiro foram plantadas por FHC, e bastante regadas por Lula. O país já possui leis que previnem contra o preconceito racial, e a própria Constituição prega a isonomia das leis. Ali Kamel diz: “Num país em que no pós-Abolição jamais existiram barreiras institucionais contra a ascensão social do negro, num país em que os acessos a empregos públicos e a vagas em instituições de ensino público são assegurados apenas pelo mérito, num país em que 19 milhões de brancos são pobres e enfrentam as mesmas agruras dos negros pobres, instituir políticas de preferência racial, em vez de garantir educação de qualidade para todos os pobres e dar a eles a oportunidade para que superem a pobreza de acordo com os seus méritos, é se arriscar a pôr o Brasil na rota de um pesadelo: a eclosão entre nós do ódio racial, coisa que, até aqui, não conhecíamos”.
Em seguida, Ali Kamel dá continuidade à sua argumentação, lembrando que o conceito de raça sequer existe geneticamente: “Definitivamente, não existem genes exclusivos de uma determinada cor”. O próprio conceito de raça em si deve ser superado, e indivíduos devem ser julgados por outros critérios que não a cor da pele, algo totalmente irrelevante em relação ao caráter e capacidade intelectual. Não existem raças superiores ou inferiores, e abraçar tal crença é mergulhar na irracionalidade.
Dando prosseguimento aos argumentos, Ali Kamel mostra como as estatísticas têm sido mal interpretadas ou até mesmo manipuladas. O grosso da população brasileira se considera pardo, um termo vago que abrange várias tonalidades de cor. As estatísticas apresentadas para “provar” um suposto racismo como causa da miséria dos negros têm utilizado todos os pardos como negros, enquanto estes representam uma pequena minoria do total. Fora isso, há uma enorme confusão entre correlação e causalidade, onde passam a considerar como causa da pobreza a cor da pele, sendo que observando mais a fundo os números, fica claro que a pobreza não faz distinção de cor. O Pelé não é vítima de preconceito racial, assim como vários outros negros ricos. Já brancos pobres costumam ser vítimas de preconceitos. Ali Kamel diz existir um “classismo” no Brasil, onde a pobreza em si gera preconceito, mas não a cor da pele. Casos isolados sempre vão existir em qualquer lugar, mas claramente o racismo não é uma marca da nossa nação, tampouco o motivo da existência de tantos pardos e negros na pobreza. Se assim fosse, os brancos seriam oprimidos pelos amarelos, já que estes ganham o dobro do salário daqueles, na média. O racismo, na verdade, não explica a discrepância de renda. Um negro, um pardo e um branco com a mesma qualificação costumam receber o mesmo nível de salário.
Um outro livro fundamental para quem pretende conhecer mais a fundo a questão das cotas raciais é Ação Afirmativa ao Redor do Mundo, de Thomas Sowell. O próprio Ali Kamel usa em seu livro os estudos empíricos do professor negro e PhD. pela Universidade de Chicago. O trabalho de Thomas Sowell é esclarecedor sobre as conseqüências nefastas do regime de cotas. O que era para ser temporário passa a ser permanente e costuma abrigar novas minorias, pois políticos não acabam com privilégios estabelecidos. Onde não havia ódio racial este passa a existir, inclusive com casos de guerra civil, como em Sri Lanka. Apenas os mais afortunados entre a minoria privilegiada se beneficiam das cotas. Em resumo, a ação afirmativa falha em todos os sentidos. Ali Kamel conclui: “Errar, ignorando toda a experiência internacional sobre o assunto, é caminhar conscientemente para o desastre. No futuro, se se repetir aqui o que aconteceu lá fora, não haverá desculpas”.
PS: Para quem acha que o alarde é exagerado e o racismo, mesmo com todo o barulho na defesa de privilégios, ainda está longe de ser nossa realidade, pode fazer um simples exercício: imaginar qual seria a reação dos defensores de cotas e de todas as vítimas do “politicamente correto” caso um grupo de música fosse lançado com o nome “Raça Branca”.
Nossas considerações
Percebe-se que o pensamento ideológico sobre a questão de raça no Brasil está diretamente ligado ao mito, pois cremos que vivemos harmonicamente brancos e negros, já que não há guerra entre raças, e os negros andam livremente pelas ruas. Mas esquecemos que os negros não ocupam os mesmos postos de trabalhos, que a maioria da população carcerária é negra porque lhes faltam oportunidades, que existe uma desigualdade acentuada nas mais diferentes esferas – educacionais, econômicas, e tudo isso é mascarado pelo mito da democracia racial. Quantos jornalistas negros trabalham na empresa de comunicação onde o autor do livro é o diretor de jornalismo?
Gilberto Freyre, importante intelectual da primeira metade do século XX é um dos responsáveis pela implantação desse mito. Em sua obra mais conhecida, lançada em 1933, Casa grande & senzala, o autor comenta como negros e brancos conseguiram na estrutura da fazenda açucareira, viver em “relativa harmonia”. O autor afirma que havia uma “convivência pacífica” entre negros e brancos, citada por ele como vantagem na civilização brasileira.
Ao longo dos anos esse discurso carregado de ideologias foi se estruturando em nossa sociedade, e enquanto isso o negro continuou sendo explorado economicamente pela classe dominante branca. O jornalista Ali Kamel afirma que querem nos transformar em um país bicolor, mas já somos um país bicolor desde quando os negros foram arrancados de seus países de origem, jogados em porões de navios acorrentados e trazidos paro o Brasil, para aqui serem explorados e entregues como objetos aos brancos. Afirma ainda que na pós-Abolição jamais existiram barreiras institucionais contra a ascensão social do negro, mas ignora que após a abolição os negros foram jogados ao acaso pelas periferias das cidades sem emprego, sem moradia, sem educação, sem a mínima condição de sobrevivência.
Com o advento da informação, os meios de comunicação de massa adotaram esse discurso como instrumento ideológico visando o controle social pela legitimação da estrutura vigente de desigualdades raciais, impedindo que a situação se transforme em questão pública e, consequentemente, sujeita a intervenções, garantindo assim o acesso aos mecanismos de controle pela classe dominante. É importante não esquecer que estamos analisando a obra de um diretor de jornalismo de um dos maiores meios de comunicação de massa do mundo (Rede Globo de Televisão), e o acesso a esse conteúdo ideológico elaborado por ele, tem grande circulação pela internet. O jornalista afirma que o racismo não é o motivo da existência de tantos pardos e negros pobres no Brasil, mas qual a explicação para esse fenômeno se ele mesmo afirma que as oportunidades são as mesmas para brancos e negros, e que a cor da pele é algo totalmente irrelevante em relação ao caráter e capacidade intelectual?
Assim baseado nas teorias de Bakhtin, percebemos que os discursos ideológicos exercem grande influência sobre a constituição social de uma determinada comunidade. E na sociedade moderna em que vivemos o excesso e a velocidade de transmissão e de recepção de informações possibilitados pelos meios de comunicação de massa, são utilizados pela classe dominante em suas estratégias de convencimento e como instrumento persuasivo da realidade social. A infra-estrutura do contexto social é alterada pela superestrutura da mídia que constroem mecanismos de controle que projetam a maneira de ver o mundo e de construir o universo discursivo do indivíduo diante de sua realidade social.